sábado, 9 de dezembro de 2017

ESTADO PARALELO E ECONOMIA INFORMAL NA COMUNIDADE DO COQUE, RECIFE - PROBLEMA OU SOLUÇÃO ?

ESTADO PARALELO E ECONOMIA INFORMAL NA COMUNIDADE DO COQUE, RECIFE -  PROBLEMA OU SOLUÇÃO ? .1

1 – Artigo produzido por Manuel  Romário Saldanha Neto, Mestre pela  UFPE.
Endereço para acessar Currículo: http://lattes.cnpq.br/2489286774040948
E mail: msmanuelsaldanha@gmail.com -  (81)– 996473310

Resumo:  O conteúdo a que se refere este artigo diz respeito a um relato de caso, relativo á efetivação do Estatuto da Igualdade Racial e das leis 10.639\03 e 11.645/08 sobre  história e  cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir dos grupos étnicos indígenas e afro-brasileiros.
Dentro dos referidos grupos buscamos resgatar e valorizar as  contribuições e experimentos exitosos nas áreas social, econômica e política, na Comunidade do Coque, situada na Cidade do Recife, trabalhando em parceria  com uma rede complexa de  atores, objetivando resolver  suas demandas  por serviços públicos,  direitos humanos, redução e prevenção de riscos e danos.
Organicamente concebido estudo de problema, virou uma ação, posteriormente projeto, e constitui-se como política pública, gerando uma tecnologia e expertise, para ações nesse âmbito.



Enfrentando problemas complexos - 2: vivemos num país dominado pela lógica capitalista global neoliberal, onde o aparato estatal é muito mais    instrumento de legitimação da exploração e da desigualdade entre as classes, do que uma ferramenta de promoção de direitos.
Historicamente e de uma forma sistêmica, o Estado e a Iniciativa privada, tem falhado na percepção dos problemas sociais, no seu enfrentamento, na construção de políticas públicas e na busca de soluções.
O binômio Estado e Iniciativa privada, agem em conjunto com objetivos adversos aos interesses do povo: a perpetuação de seus interesses de classe, extração de mais valia popular ,   acumulação de capital, extração e conservação de privilégios. Este binômio não funciona, e quando funciona, funciona de forma ineficaz. O que os grupos populares efetivamente podem fazer no sentido da construção de ações e políticas públicas que tornem efetiva a legalidade constitucional das garantias e direitos fundamentais ¿
 À nível de referencial teórico, nosso problema se insere dentro da crítica  pós-colonial ao   paradigma  capitalista, neo liberal brasileiro dominante, que  opera ineficazmente e sistematicamente na esfera do Estado, na economia, política,  direitos e promove  todo tipo de violência, através das desigualdades sociais, e políticas equivocadas, onde uma classe dominante\opressora  desfruta da maioria dos  direitos, em detrimento do povo explorado\oprimido composto por indígenas,  negros, seus descendentes, mulheres, diversidade LGBT  e  minorias excluídas praticamente de tudo.
Em Peles Negras, Máscaras Brancas,(2008) um clássico do pensamento pós-colonial, Frantz Fanon escreveu sobre um tempo que o Brasil ainda vive. Para haver a diminuição da opressão de uma cor sobre outra deverá haver mudanças nos eixos estruturais da  sociedade, com a criação de mecanismos que visem dirimir essas diferenças, nos âmbito social, econômico, cultural e político.
Já  Homi Bhabha (2005)  propõe uma discussão sobre o sujeito colonizado e o colonizador, levantando questões sobre como ocorre a construção do discurso de poder que garante a dominação e superioridade de um povo sobre outro.
Dois pensamentos são fundamentais para entender esse processo: o estereótipo e a mímica. Através de um discurso que exalta um povo, uma raça, valores são repassados de geração em geração. Enquanto que tudo que não está presente nessa narrativa passa a ser desconstruído, repudiado e mal visto. Com isso, temos a criação de estereótipos que fixam uma ideia negativa a respeito do outro, do que não está classificado dentro dos padrões sociais requeridos.

2 – Morin, E. Teoria da Complexidade, in O Método, Porto Alegre: Sulina, 2005.


 Aproximando os dois  pensadores à  nossa realidade brasileira, podemos enxergar o quanto o marketing político consagrado nos slogans da “Democracia racial”,  “Brasil, Ame-o ou deixe-o”, “todos são iguais, perante a lei”, “Brasil um pais de todos”, "Governo Federal: Ordem e Progresso"   são todos  iguais e inoperantes, quando se verifica  a ação do Estado e as condições de acesso à oportunidades  de negros e pardos em nossa sociedade.
Analíse diagnóstica: A partir de estudos iniciados em 2008, na Comunidade do Coque, por pesquisadores da UFPE, Movimento Negro Unificado, e do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Oyá Orum Balé, em  2011, no  ano internacional dos afro-descendentes, foi entregue ao Ministério Público de Pernambuco um relatório multidisciplinar: “Relatório Preliminar -Tortura, discriminação estrutural e violência institucional na comunidade do Coque/Joana Bezerra, Recife/PE”, que foi  enviado originariamente à  Organização das Nações Unidas(ONU), na pessoa de sua representante no Brasil Dr. Margarida Pressburger,  membro do Subcomitê para Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes (SPT) . Este documento foi elaborado  para requerer  ações e políticas de enfrentamento às desigualdades sociais na referida comunidade.
Trabalhando em rede horizontal, pactuando com vários atores tais como   a população local, lideranças comunitárias, Terreiro de Candomblé ILÊ AXÉ ÒYÁ ORUM BALÉ,  o Movimento Negro Unificado, Movimento LGBT de Terreiro,  UFPE, Secretaria de Educação do Recife, Ministério Público de Pernambuco, Governo do Estado,  Secretaria de Saúde do Município, Secretaria de Defesa Social\PE, Secretaria de Defesa dos Direitos Humanos\PE,  Rotary Internacional,  Senai, fomos pactuando, estabelecendo objetivos, grupos de trabalhos com responsabilidades específicas para entregar efetivar direitos e serviços  à Comunidade.

Nossos estudos, à época mostravam que 20 mil afro-descendentes, índios descendentes, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBTs)  viviam na Comunidade do Coque, em condições precárias, na linha de miséria, torturados cotidianamente, submetidos a tratamentos desumanos e degradantes, entulhados como lixo humano, num espaço urbano inapropriado, perseguidos pela polícia, alijados de políticas públicas efetivas. Um povo com sua auto-estima violentada continuamente pelas elites e meios de comunicação, sofrendo uma verdadeira política de extermínio.
Há anos a comunidade e o terreiro de candomblé lutavam por seus diretos e a sua dignidade humana, lutas estas que remontam o tempo da escravidão. O terreno da comunidade é fruto de uma luta e invasão legítimas e ainda hoje encontra-se em situação irregular pois trata-se de uma terreno de alto valor imobiliário, situado no coração de recife, segundo o Babalorixá Jurema da Balé.
O poder público e a especulação imobiliária sonham em tomá-lo da comunidade, é o que está acontecendo, vive-se até hoje numa situação de guerra constante contra o Estado e iniciativa privada.

O interessante é que mesmo com um dado desta dimensão, o Estado brasileiro e suas políticas públicas tem tido pouca eficiência  para  que essa situação deixe de ser um problema e vire uma solução de desenvolvimento social, que garanta a retro alimentação econômica, sem destruir o meio ambiente protegendo os direitos e protagonismo  dos mais vulneráveis e que lá residem, produzem e consomem , num processo auto gestacional relativamente auto sustentado. Nestes locais. Para Cancline, ( 1998)  o populismo tornou possível para os setores populares novas interações com a modernização, tanto com o Estado quanto com outros agentes hegemônicos, fazendo com que parte de suas demandas fossem parcialmente atendidas, mas com a reorganização neoliberal dos Estados, com a estagnação e a recessão dos anos  2000, que implicam escassez de verbas para atender as reivindicações populares, inviabilizou o projeto populista de inclusão conservadora do povo via mercado de consumo, deixando-o como sempre fora da esfera decisória do poder político-ecônomico.
No binômio classes dominantes x classes exploradas, nosso foco de interesse se voltou para  a esfera explorada, nas periferias, à margem e  muitas vezes fora do Estado; o  chamado Estado paralelo, com sua política, economia informal  e organização próprias. Na esfera deste Estado marginal também encontramos as comunidades tradicionais de terreiros de matrizes indígenas, africanas, e sincréticas como locais de memória, produção, consumo,  recriação e difusão de saberes, que possibilitaram e possibilitam  um contínuo civilizatório recorrente,  marginal e contra hegemônico.

O objetivo da pesquisa era investigar estes espaços marginais de matriz  étnico-raciais, seus problemas e soluções, construídos  por  uma  economia cultural  própria e   caracterizados pela  educação, vivência comunitária, diversidade, pluralidade cultural, democracia, acolhimento e pela rede de  prestação de serviços à comunidade, auto gestacionário  e relativamente auto sustentado.
Na dialética Centro x periferia, estes espaços  políticos- econômicos e sociais, geralmente   localizado nas franjas do Sistema dominante central, encontram-se em favelas, morros, alagados  e  agrupamentos de economia  popular.

Observamos que na Comunidade do Coque, um  espaço popular e  marginal clássico,   se forjava  uma nova economia, de matriz  étnico-racial  afro-indígena-brasileira e um novo quilombo ou Estado paralelo.
Para Clovis  Cavalcanti, (2001)  “O esforço a ser empreendido sob o guarda-chuva da etnoeconomia deve ir além das economias ecológica e convencional, da antropologia econômica, e da etnoecologia e etnociência. Ela deve desenvolver que conceitos, categorias e práticas as sociedades utilizam para avaliar, calcular, monitorar e administrar os recursos humanos, naturais e de patrimônio (incluindo espirituais e estéticos). A proposta é de encontrar uma “nova” perspectiva que possa promover diálogo entre disciplinas e que seja conduzido e guiado pela miríade de noções e experiências dos povos locais.”

Historicamente, a escola do Estado paralelo e da  economia   étnico-racial, foi uma das primeiras respostas contra-hegemônicas à invasão do moderno capitalismo na América, onde índios e negros se associavam criando uma nova estrutura de sobrevivência.   Nesses locais de vulnerabilidade que foram os quilombos e  terreiros de candomblé, apareceram  os primeiros  empreendedores contra hegemônicos , e  e esta mesma lógica que pode tornar as periferias o eixo da busca de respostas financeiramente sustentáveis.

 A medologia de nosso projeto se apropriou da metodologia construída pela própria  comunidade, que  de forma orgânica,  progressiva  e horizontal,  buscava, junto à vários atores, construir estratégias locais para   o  auto-desenvolvimento e gestão do trabalho,  no propósito de encontrar resposta às suas demandas básicas de sobrevivência, que  passavam necessariamente  pela superação da  adversidade, transformando a escassez e a exclusão   em produção, consumo e distribuição de riquezas. Os Atores da cena local: Os protagonistas do espaço étnico-cultural da Comunidade do Coque (Quilombo urbano) e de outras comunidade espalhadas pelo Brasil criam suas soluções de sobrevivência de uma forma auto gestacionária, algumas vezes contando  com a colaboração do Estado e iniciativa privada formal, outras vez sendo perseguidas pelo Estado formal ou mesmo trabalhando apenas com suas ferramentas de iniciativa local.
Atualizando dados: Estes novos atores desta nova economia criativa são  11,7 milhões de pessoas que vivem em favelas (6% da população total do Brasil). Se as favelas fossem um estado, seria o quinto mais populoso do Brasil,  a renda média nas favelas cresceu em 54.7% nos últimos 10 anos, de R$603 em 2003 para R$1,068 em 2013, segundo Meirelles, R.,  Athayde, C. (2014).
Segundo o IBGE, os negros (pretos e pardos) eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população. Os brasileiros que se declaravam brancos eram 45,5%. Na parcela do 1% mais ricos, 79% eram brancos, em 2014. Em 2004, havia 12,4% de negros e 85,7% de brancos nesse grupo. Entre 2012 e 2016, o número de brasileiros que se autodeclaram pretos aumentou 14,9% no país. No mesmo período, também cresceu a quantidade dos que se consideram pardos, enquanto diminuiu o percentual de brancos na população. É o que revela a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), 2017.

Um estudo do Instituto Locomotiva (2017) também aponta que a renda da população negra no Brasil é de R$ 1,6 trilhão. É um mercado com grande potencial consumidor, equivalente ao 17º maior do mundo.

CLASSES SOCIAIS POR FAIXAS DE SALÁRIO-MÍNIMO (IBGE, 2016)
Classe           Número de Salários-Mínimo (SM)         Renda Familiar (R$)
A         Acima de 20 SM          R$ 18.740,01 ou mais
B         De 10 a 20 SM              R$ 9.370,01 a R$ 18.740,00
C         De 4 a 10 SM                R$ 3.748,01 a R$ 9.370,00
D         De 2 a 4 SM                  R$ 1.874,01 a R$ 3.748,00
E         Até 2 SM                       Até R$ 1.874,00

Fonte:https://thiagorodrigo.com.br/artigo/faixas-salariais-classe-social-abep-ibge/


Até o final de 2017, o Brasil deverá testemunhar um aumento de 2,5 milhões até 3,6 milhões no número de pessoas vivendo na miséria. Resultado dos processos de acumulação e exploração  do capital e  da prolongada crise econômica, a estimativa foi divulgada neste mês pelo Banco Mundial, isso sem se falar dos processos de morte e  extermínio da população negra e parda, fruto da queima de mão-de-obra excedente, uma verdadeira anti-política patrocinada pelo Estado e Inciativa privada.

Mapeando o perfil dos chefes das famílias de “novos pobres”, o Banco Mundial aponta que esses brasileiros não eram miseráveis em 2015. Eles têm nível de qualificação — 38,2% concluíram pelo menos o Ensino Médio — muito próximo ao da camada de não pobres, dos quais 41,3% têm, no mínimo, escolaridade média. Os “novos pobres” tinham trabalho dois anos atrás, mas entraram para as estatísticas dos desempregados.
O nível da formação revelado pelo Banco Mundial distancia os dois segmentos dos considerados estruturalmente pobres, brasileiros que já eram pobres em 2015 e continuarão vivendo na miséria. Entre esses, apenas 17,5% terminou o Ensino Médio e 63,7% vive no campo. Quase 90% dos “novos pobres” vivem em zonas urbanas.


Fonte :   Fátima Fernandes, Diário do Comércio,  13 de Fevereiro de 2017

Nossa hipótese de pesquisa e que se verificou  em loco foi  que  este Estado Paralelo e sua  economia informal e periférica, encontrada das classes D e E, e nos grupos na linha da pobreza atuava, e  vai atuar e refletir em todas as dimensões do Estado e  da economia formal  brasileira.
Neste “Estado fora do Estado” vamos encontrar toda uma rede de produção e consumo que  será constituída tendo em vista a satisfação das necessidades básicas, destes grupos em vulnerabilidade, os produtos e serviços são extremamente baratos devido ao não pagamento direto de impostos a um Estado que não reverte os mesmos em serviços, quando reverte é de uma forma precária e ineficiente, quando estes mesmos impostos não são engolidos pela corrupção estatal e privada.

A rede produtiva marginal e auto-regulada, das periferias produzem e oferecem uma rede de serviços que englobam necessidades humanas básicas e  direitos fundamentais, tais como  vida,  igualdade,  dignidade, segurança, honra, liberdade, propriedade, alimentação, moradia, à educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, segurança e assistência, tendo por  finalidade a melhoria das condições de vida dos excluídos, concretizando assim, um outro modelo de  igualdade social, à margem da ideologia de igualdade do  Estado formal.
Existe um tipo de mercado local – podemos chama-­lo de “marginal”, “informal” “criativo”, “alternativo” ou “colaborativo”, progressivamente a expressão “mercado negro” tem sido abandonada por trata-se de expressão racista, a expressão  “mercado ilegal” também tem sido criticada, uma vez que o mesmo obedece às suas legalidades próprias, sendo  que as legalidades formais do Estado de direito se referem mais a propaganda ideológica  do que políticas sociais efetivas.

Relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU Habitat III, 2016)  estima que mais de 900 milhões de pessoas vivam em favelas, atualmente, em todo o mundo. Somente no Brasil, são 12 milhões de moradores de comunidades carentes, de acordo com o instituto Data Popular.

Para o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), baseado em Meireles e Athayde, (2014)  O desenvolvimento econômico das favelas merece um tratamento individualizado, nelas, vigora o sentimento de empreendedorismo, a vontade de tornar-se dono do próprio negócio dentro da própria favela. Tal atitude está relacionada ao reconhecimento dos moradores das favelas de que dificilmente conseguirão empregos formais com a remuneração desejada; logo, o empreendedorismo é a forma objetiva encontrada para sair desse processo. Entretanto, valoriza-se o emprego formal também na favela, pois há o reconhecimento de que o crescimento econômico e o aumento de renda são frutos do crescimento do emprego formal, viabilizando assim os novos negócios.

Este mercado informal  procura atender, preferencialmente, à população de baixa renda que não tem acesso ao mercado formal nem aos programas governamentais, ou quando tem, esses são deficitários, fazendo com que os  cidadãos consumidores procurem alternativas para resolver seus problemas.
 Bens, produtos culturais e serviços tais como gastronomia, arquitetura, engenharia, serviços elétricos, hidráulicos, mecânicos,  o samba, música popular brasileira, vestimenta, linguagens ancestrais, filosofia, ética, carnaval, maracatu, coco, ciranda,  caboclinhos,  movimento mangue, capoeira, frevo, a cultura e estética da periferia, axé, brega, hip-hop, funk,  cavalo marinho, bumba meu boi,  afoxés, culinária regional, moda, medicina natural, respeito a natureza são expressões culturais desta economia marginal e criativa.
Os problemas que encontramos nos espaços marginais e periféricos também fazem parte desta economia local, e da economia do Estado, pois mesmo vivendo à margem do Estado formal, esses grupos sociais são continuamente assediados   pela lógica de acumulação do Capital, operada por empresários e políticos.
Existe  o tráfico de drogas,  a luta armada e todo tipo de violência, expressão mais dramática da luta de classes,  mas para além destes problemas, estamos aqui considerando os elementos positivos destes grupamentos sociais e suas experiências exitosas e inovadoras.

Além de local pedagógico as periferias, suas comunidades de terreiros e grupos evangélicos atuam formalmente e informalmente como protagonista na economia global brasileira, influenciando ativamente transversalmente áreas do  Estado, Iniciativa privada e Governo na  educação, cultura, trabalho, meio ambiente, direitos humanos, desenvolvimento social, economia e planejamento
Impacto e resultados: As economias periféricas e suas  comunidades tradicionais de terreiros, que não se reduzem à expressões culturais de violência, bandidagem, submundo e religiosidades socialmente amaldiçoadas, são também centros de notórios saberes, tecnologias, ciência, arte,  filosofia , políticas, e conhecimentos cotidianos vitais sobre as cosmovisões da história e cultura africana e indígena, que sobreviveram à escravização, ao racismo e à lógica eurocêntrica.
Nestes espaços a tradição não se contrapõe à modernidade, nem à tecnologia, são espaços de inovação.
O Estado paralelo, sua economia informal , política periférica, suas comunidades tradicionais e sociabilidade  acrescentam  novos  temas, ângulos e soluções ao Estado e a economia  formais. Quando esta dialogia é desenvolvida há um enriquecimento para ambos os lados   e para a sociedade como um todo. Nesta perspectiva foi construído o projeto de intervenção social e construção de políticas públicas dentro da Comunidade do Coque, no referido período. Um trabalho que  tem continuidade até hoje através dos vários atores anteriormente citados, dando ênfase as lideranças locais.
O procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon de Barros, criador do projeto MINISTÉRIO PÚBLICO NAS RUAS, destacou que o momento era muito especial para o Ministério Público Brasileiro, em especial, o de Pernambuco. “Só podemos ter uma cidadania plena quando todas as instituições forem para as ruas conhecer melhor as comunidades, pois somente podemos defender aquilo que conhecemos”, ressaltou.
Avaliação : buscamos nestes  anos todos de trabalho construir espaços de diálogo entre o Estado formal  e  o Estado paralelo da Comunidade do Coque, sua   economia política informal , seus  povos e territórios étnico-raciais, procurando construir uma rede de serviços e ativistas multiplicadores em políticas públicas, assistência social, cultura, educação, emprego e renda, esportes, saúde,  segurança  e Urbanização, redução e prevenção de riscos e danos.
Acreditamos que estes grupos marginais   precisam e devem ser respeitados, trabalhados e incluídos do ponto de vista das políticas públicas de Estado, governo, e da iniciativa privada empresarial, levando-se em conta os problemas que enfrentam e os  casos de êxito e sucesso desta  nova economia,  cultura  e educação que  eles criam cotidianamente.
Mais que uma solução definitiva, trabalhamos na perspectiva de uma construção orgânica “in progress” o projeto continua , se  amplia para outras comunidades e para o interior do Estado, através de vários pactos e transações entre diversos atores. ­
 Os moradores das favelas já ultrapassaram e superaram dilemas da própria sociedade que continua a compreendê-­los como um “problema social”, anunciando soluções locais para dificuldades da vida em comum em termos econômicos e de governança –  O Estado paralelo e a economia informal muito mais que  problemas são  parte fundamental da solução para os conflitos e desigualdades  sociais.

Referências:
BRASIL.Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
BRASIL.Lei  nº  11.645/08, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, 2008.
BRASIL.Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, institui o Estatuto da Igualdade Racial, 2010,
BRASIL.Ministério do Desenvolvimento Social. Alimento: Direito Sagrado – Pesquisa Socioeconômica e Cultural de Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiros. - Brasília, DF, 2011.
CAVALCANTI, C. Pensamento econômico, saber ecológico tradicional e etnoeconomia: Uma proposta introdutória de nova perspectiva disciplinar
Fundaj, 2001.

 FANON, FRANTZ. Pele negra, máscaras brancas; tradução de Renato da Silveira.Salvador: EDUFBA, 2008

GARCÍA CANCLINI, N. (1998). Culturas híbridas – estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Edusp.
BHABHA, HOMI K. O local da cultura. Ed. UFMG: Belo Horizonte, 2005.
M ANDREWSL PRITCHETTM WOOLCOCK Escaping Capability Traps through
Problem Driven Iterative Adaptation (PDIA), June 2012.
MORIN, E. Teoria da Complexidade, in O Método, Porto Alegre: Sulina, 2005.

 Relatório Preliminar -Tortura, discriminação estrutural e violência institucional na comunidade do Coque/Joana Bezerra, Recife/PE, pode ser encontrado na página: http://pt.calameo.com/books/000712956309bfb0c4473
Relatório brasileiro para o Habitat III / relator: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. – Brasília: ConCidades, IPEA, 2016.
Notícias sobre a ação e as  política públicas na comunidade do Coque:
http://www.mppe.mp.br/siteantigo/192.168.1.13/index.pl/20111214_mpnasruas.html
http://www.alepe.pe.gov.br/2011/12/15/cidadania-dia-nacional-do-ministerio-publico/
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2011/12/mppe-promove-semana-com-palestras-e-acoes-de-cidadania.html?id=2011/12/mppe-promove-semana-com-palestras-e-acoes-de-cidadania.html&type=noticia&section=pernambuco&hash=2